O sentimento de pânico tem uma explicação mitológica. Pã era um dos deuses da Grécia antiga- e que “emprestou” o nome para o transtorno-, costumava pregar sustos que deixavam as vítimas literalmente em pânico.
Pã era um deus diferente. Ao contrário dos outros deuses, não habitava o cume do Olimpo. Vivia no campo, cuidando dos rebanhos, das manadas, das colméias. Ajudava os caçadores a encontrar suas presas e participava das orgias realizadas pelas ninfas. Personificava a potência sexual e a fecundidade.
Apesar de sedutor, alegre e bem-humorado, pã era feio. Tão feio, dizem, que a mãe, ao vê-lo pela primeira vez, fugiu dele, morta de medo da criatura de chifre, barba, pernas de bode e rabo que acabara de vir ao mundo.
Em vez de maldizer essa sina, ele brincava com a própria feiúra- usava-a para pregar peças nos humanos. Saltava às costas das vítimas de repente, apavorando-as. Quando o viam, com aquele aspecto, horrível, elas ficavam ainda mais aterrorizada. E fugiam em disparada.
Pã se divertia muito com isso. Gargalhava enquanto observava as pessoas correndo, assustadas, pelos bosques.
Ele tinha uma vida simples. Modesto, nem de longe lembrava a imponência e a vaidade dos outros deuses. Só fazia questão de tirar sua soneca à tarde. Quando perturbado nessa hora, vingava-se, assustando que os incomodava.
Os deuses o desprezavam, embora se divertissem com ele. Mas reconheciam seu grande talento, sua criatividade e seus poderes.
Dizem que Apolo roubou dele a arte da profecia. E que Hermes se apoderou da flauta que pã deixou cair – que ele fizera com caniços de brejo-levando-a ao olimpo e mentindo que se tratava de uma invenção sua.
O interessante é que podemos encontrar pontos em comum entre o mito pã e o distúrbio do pânico. Como pã, o pânico ataca de repente e apavora. Como pã, o pânico revela sua face feia, terrível, da vida.
Mas há outros aspectos importantes. Quando o pânico ataca, aprisiona a criatividade, o talento e a energia vital-representada em pã pela potência sexual.
A necessidade de proteção leva o paciente a evitar contatos sociais, profissionais e afetivos. Seu talento e sua criatividade, porém, permanecem intactos.
Sem ter como expressar-se, essa energia criadora provoca angústia e ansiedade. E aqui a lição de pã é fundamental. Ele podia ter-se afundado em sentimentos negativos, paralisante, por causa da aparência, da rejeição da mãe e de seus pares (os deuses), da vida solitária e modesta do bosque.
Isso, porém, nem lhe passou pela cabeça. Usou o talento e a criatividade para amar, seduzir, cuidar, divertir-se. Viver, para ele, era isso. Jamais entrou nos complicados jogos de poder dos outros deuses. Sabia que tinha limites. E, em vez de deixar que eles atrapalhassem sua vida usou-os para ser feliz.